quarta-feira, 1 de abril de 2015

O Brasil do início de 2015

Eu adoro espanhol! Ouço bastante música, tento aprender as letras. Assisto a entrevistas e reportagens no idioma. Acompanho jornais de vários países na língua. Também gosto de me informar sobre o que move a mídia (os assuntos que acho mais pertinentes; não os insignificantes). Para tanto, não me contento com a mídia local. Gosto de saber o que os outros dizem sobre nós, o que pensam sobre nós, como veem de lá a nossa realidade. Posto isso, tento unir o útil e o agradável e acompanho vários portais em outros idiomas, sobretudo em espanhol. Leio, ouço, e nas dificuldades de entendimento e interpretação procuro ajuda; dicionário, regras gramaticais... Pelo menos tento aprender, entender. Busco! Poderíamos ser todos assim! Fazer essas coisas para aprender espanhol? Não! Buscar! Buscar entender, compreender, se ater. Buscar recursos, fontes. Resumindo este início de raciocínio, onde quero chegar é: vamos investigar e buscar algo além daquilo que lemos e vemos, daquilo que nos é passado.




Fim de 2014. Eleições presidenciais. Morte de candidato, "pesquisas eleitorais" totalmente desacordantes com os resultados (surpreendentes) das urnas, debates televisivos em baixíssimos níveis, ruas absurdamente sujas nos dias de votação, pessoas presas fazendo o que todos sabem que não se pode fazer, enfim, Brasil.

Término da apuração. O atual governo ganha a oportunidade de comandar a imensa barca brasileira por mais quatro anos. Muito diferente de Lula, transparente, incisiva, Dilma se depara com o enorme desafio de acalmar a metade do Brasil que brotou no país mediante o direitismo do líder do PSDB na disputa presidencial, o afilhado do abominável Homem das Neves, neto do ex-presidente Tancredo Neves, irmão da Branca de Neves, Aécio Neves. O cara de Trakinas conseguiu, incrivelmente, conquistar e alimentar a chama da até então escondida direita brasileira, que enfim teve a coragem de tirar suas máscaras e se manifestar diante do gigante.

As inúmeras notícias sobre a fome e a impagável dívida externa do país de terceiro mundo, vulgo, Brasil, de até o início do século, deixaram de ser veiculados e deram lugar à preocupação dos brasileiros em financiar suas casas próprias e manter os carros de suas garagens. Estamos preocupados com a nossa economia. Queremos a tal economia aquecida que falam nos jornais. Queremos o desenvolvimento que mostra na televisão. Queremos números cada vez maiores e estar o mais próximo possível do topo dos principais rankings! Queremos porque agora podemos querer!! Discutir o desenvolvimento que queremos é algo que merece um aprofundamento no assunto que não tratarei aqui, mas já deixo a brecha de que é algo a pesquisar! Eu disse PESQUISAR!

Dê poder ao homem e descobrirás quem realmente ele é. (Maquiavel)
Todo homem investido de poder é tentado a abusar dele. (Montesquieu)
Se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder. (Abraham Lincoln)

Essas frases são provas de que Dilma está abusando de seu poder e piorando o país porque ela é uma péssima administradora. São provas de que elegemos uma presidente que não de fato conhecíamos. Os quatro anos do primeiro mandato não foram suficientes. Não! Essas frases nos respaldam a entender o comportamento do eleitor e também para dar-nos conta de que ainda há muito o que se fazer no país. Esse fazer no país diz respeito a tornar o cidadão ativo politicamente, não passivo ideologicamente. Poder não é exclusividade de líderes. Pense nisso!

Não se esqueça da história do Brasil. Temos uma herança maldita que nos contaminou e nos faz mal, muito mal até hoje e demoraremos (muito) para nos curar, se de fato esse momento um dia chegar. Não se esqueça que você não consegue fazer tudo o que quer para melhorar tudo na sua casa e/ou no seu trabalho... com os que te cercam. Não cobre, portanto, que UMA pessoa consiga resolver TODOS os problemas de um país... de dimensões continentais, multicultural, com singularidades (não vistas no mundo todo) em cada pedaço de seu território. Somos, ao mesmo tempo, um e muitos. (Entende o quão complexo isso é?)

Conquistamos nos últimos anos: poder. Não todos, claro. Super-heróis não existem. Com esse poder deixamos de pensar nos outros e passamos a pensar apenas em nós mesmos. Me remeto ao brasileiro, ao indivíduo, não ao país como unidade. Conquistamos coisas e agora queremos mais porque sabemos que podemos, mesmo ainda havendo os que ainda precisam do crescimento que a maioria já conquistou. Por que, então, não pensar no coletivo para crescermos juntos? Não! Temos uma ameaça bolivariana e o dever de combatê-la. Aécio como Vargas, então, para dar o golpe e salvar a pátria! Se não o Neves, então os militares! O fato é que essa situação não pode continuar. Cuba e Venezuela? Não queremos ser como eles! E quem disse que seremos? Quem disse que se quer?

Foro de São Paulo. Seremos comunistas! Não! Nunca na história o mundo experimentou o comunismo, o verdadeiro comunismo tratado por Marx. Se isso nunca aconteceu, por que é tido como algo ruim? O fatídico exemplo de Cuba se trata de um regime que usurpou de (algumas) características comunistas mas nunca se fez uma nação totalmente comunista. É uma afronta a Marx, que é tido como vilão por falsas e equivocadas interpretações da realidade. O Estado totalitário, sim, tem que ser temido, no meu ver. Estado totalitário que tem, talvez, a Monarquia como exemplo, ao invés do modelo republicano democrático. Fala-se muito em direita e esquerda, mas por que a hegemonia dessa dicotomia? Não faz sentido se pensarmos, por exemplo, na quantidade de partidos que temos no país, por exemplo. Algo não está encaixando. Podemos pensar um pouco mais!

Dilma nunca fez questão da necessidade de uma imagem como fez Lula. Hipócrita, falso, Lula nos deu, inegavelmente, muita coisa boa, mas em detrimento de algumas medidas (meio) sujas, por baixo do pano. Dilma não é assim. Errou implacavelmente quem achou que o barbudo controlaria aquela que prefere ser chamada de presidenta. Erra quem acha que presidente bom é presidente com caricatura de bonzinho, mocinho. Nas nossas relações com as pessoas sabemos bem que imagem e impressões pouco importam.




Roussef diz que seu governo combate a corrupção. Você assiste ao tio Bonner falando sobre corrupção quase todos os dias. PSDBistas, se você ainda não sabe, também tem mensalão! Tucanos estão escondendo os bicos e voando pra lá de alto e longe de todo o tumulto de acusações, seja lá do que for. FHC, ao se tratar da imprensa, diz que não fala de amigos. Apenas petistas são desmascarados e crucificados. Tucanos livres, blindados... Por quem? Oras, não é óbvio? O PIG e o PSDB são aliados e estão te enganando! São donos de suas opiniões. Se estamos tendo acesso a todas essas informações, por mais distorcidas que nos aparecem, é porque o atual governo está, sim, em combate contra a corrupção. O PT, sem sombra de dúvidas, não é santo, tampouco o salvador da pátria, mas afinal, quem é? Você? Foi o partido vermelho que inventou a corrupção? Não. Definitivamente não!

Falhamos em planejamento energético e hídrico? Sim! É óbvio! Somos o país que mais dispõe de recurso hídrico no mundo. Não à toa nossa energia provém majoritariamente desta fonte. É uma preocupação plausível e preocupante. Vergonhosa, diria, até. Mas é uma realidade que temos que conviver com ela e cobrar do governo, eleito democrática e legalmente, as devidas medidas para, claro, deixarmos essa situação. Apesar de avanços em geração de energia por fontes renováveis, ainda não estamos confortáveis nesse quesito, uma vez que essas fontes não têm a abrangência da energia proveniente das águas.

Sobre a temida regulação midiática, equivocadamente diz-se que se trata de uma roupagem para a censura. E ainda equivocadamente diz-se que o PT está tentando seguir os mesmos rumos da Venezuela a respeito deste tema. Argentina e Uruguai são outros exemplos de sul-americanos que aprovaram legislação para este fim. Não é algo restrito aos países em que a direita teme, aos ditos bolivarianos. A monárquica Inglaterra também possui legislação específica para a mídia, entretanto, por se tratar de um clássico europeu, ocidental, desenvolvido, não se diz que é censura. Hipócritas! A regulação midiática que se pretende não se trata de censura. Ninguém será proibido de dizer algo, mas sim terá que se responsabilizar pelo que disser com base em termos legais. Não é diferente, por exemplo, de quando alguém disser algo racista a outra pessoa. Ninguém tem a boca amordaçada, ninguém é proibido de falar o que quer, entretanto, o ofensor tem de responder pelo que faz. É claro que a proposta vai (muito) além disso. Se você buscar folhear o documento uruguaio, por exemplo, algo que fiz, achará nada que faça qualquer tipo de alusão à censura. O que poderia acontecer no Brasil seria semelhante ao ocorrido na Argentina. A Globo seria o grupo Clarín do Brasil. O maior veículo midiático argentino é absolutamente feroz em suas publicações, difamando o quanto pode o governo Kirchner. Aqui no Brasil a Globo já faz isso, imaginem se conseguirmos aprovarmos uma lei midiática. É uma questão importante, mais do que se pensa, e muito delicada. É por meio dos jornais que nos informamos. Se os jornais são tendenciosos e ou mentirosos, a quem iremos recorrer para termos informação?

Englobando tudo: uma comparação que gosto de fazer... Tal futebol, tal política. Os clubes brasileiros não se cansam de mudar de técnicos. Fruto da falta de um projeto, falta de planejamento e confiança em seu trabalho. Os resultados aparecem em longo prazo. Por que é difícil acreditar nisso? A esperança na política brasileira não anda de forma diferente. Basta aparecer a primeira dificuldade que já se pede a cabeça do líder. Se nossos pensamentos continuarem dessa maneira, nunca conseguiremos ser aquele dos nossos sonhos.

Já falamos um pouco sobre o polêmico aumento do preço da gasolina, sobre o terror do comunismo, da crise hídrica e energética, de corrupção, da caricatura do líder e da mídia. Mas e a Petrobrás? Muita corrupção, má administração... Solução: privatizar! Claro! Muito justo, muito óbvio! Se você encontra um problema, você transfere a responsabilidade. É o que todo mundo faz, não é? Ninguém busca solucionar. Se você discute com alguém o óbvio e correto é eliminar aquela pessoa da sua vida. Muito humano, isso!

O que está acontecendo no mundo? Qual a realidade dos países do globo nos últimos anos? Os Estados Unidos tem problemas políticos internos não resolvidos há décadas, além da economia não ser a mesma de sempre. A China tende a ser a bambambam dos negócios internacionais em breve, fato já admitido pelo próprio Tio Sam, mas ultimamente seu crescimento andou afrouxando o pé do acelerador. Os países ibéricos, a Grécia, a Itália, ..., vêm sofrendo bastante. O estilo de vida europeu, apesar de não ter ido ao abismo e ainda ser um luxo comparado às nações sulistas, decaiu bastante nos últimos anos. A Rússia, apesar de bastante ousada politicamente sob o comando de Putin, economicamente não passa muito bem. Nossa hermana Argentina está quebrada. E o Brasil? Ficou imune? É impossível. As medidas de Lula que permearam até o primeiro mandato de Dilma deixaram o país em uma situação de conforto diante do restante do mundo, mas essa condição não poderia durar para sempre. Em algum momento teríamos que frenar e apertar os cintos. A hora é agora. Justamente no início do segundo mandato da presidente, o que deu a entender para muitos que as medidas tomadas pela mandatária aconteceram pura e simplesmente porque ela é uma bruxa que quer o pior para o Brasil. Francamente! Não dá para acreditar nisso! Até Collor tinha intenções de controle da economia nacional quando confiscou a poupança do brasileiro. É claro que podemos e merecemos muito, muito mais, mas nada se compara ao Brasil de hoje com o Brasil de antes dos governos petistas.

É claro que eu também não estou satisfeito com muita coisa, e coisas que são problemas antigos, inclusive, que já deveriam ter tido iniciativas para melhoras. Também reconheço os avanços ocorridos na época da Ditadura, assim como medidas interessantes do governo FHC. Apesar de muitos pesares, não creio que a solução seja a decapitação e ou um modelo político altamente déspota. Há de se lembrar, também, que o modelo político brasileiro não é formado apenas pelo executivo federal, mas também o dos estados e municípios e os legislativos, além do próprio cidadão, o eleitorado.

Se tratando de eleitorado, no país, somos uma verdadeira vergonha. Me recordo de um dos debates entre os presidenciáveis em que no momento de pergunta de pessoas da plateia, uma senhora questionou à presidente sobre a questão do saneamento em sua rua. Oras, por que raios esse tipo de pergunta tem que ser feito ao presidente? Temos que saber, pelo menos, as atribuições que competem a cada estância. Assim saberemos a quem cobrar as devidas medidas. Ler a Constituição deveria ser costume de todos. (Hoje basta baixar um aplicativo de celular que você tem a Constituição Federal Brasileira em mãos onde quiser!) Tomar conhecimento do funcionamento político do país é dever de cidadão, algo que em geral, não exercemos, sendo que deveria ser exatamente o contrário, ser corriqueiro. Não serei ingênuo de achar que o funcionamento do modelo republicano do modo como funciona no país ocorre de maneira impecável, entretanto, creio que muito da falha provém de fatores personais, morais e de resquícios de nossa história.

Acredito que ficou bastante nítido meu posicionamento. Não é errado ser de direita, mas seja de direita por um propósito, por algo que você sabe do que de fato se trata. Saiba o que está defendendo, a bandeira que está carregando.

Muitas (des)informações nos são passadas. É neste momento que volto ao início do texto. Busque! Não se contente com a manchete linda que te enche os olhos e te dá aquela tentação em falar (mal). Repetir o que dizem é muito fácil. Difícil é problematizar o que dizem. Essa tarefa é nossa. Não seja superficial. Temos que questionar, fazer, ao menos, as perguntas básicas às notícias: o quê? quem? onde? quando? por quê? para quê? por quem? para quem? Vamos investigar. É dever de cidadão!

Um comentário:

  1. Muito bom o texto. Aproveito para acrescentar a importância de acompanhar as decisões do senado e da câmera dos deputados.

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