"Carro é cultura. Por esse motivo, pelas ruas de um país, da mesma maneira que a arquitetura dos prédios, castelos e casas, os automóveis, ônibus e motocicletas dão dicas de como um povo é ou almeja ser. Neste texto comentamos sobre as diversas regiões do mundo e seus respectivos carros.
EUA
Começando pelo país que fez do carro seu meio de transporte preferido, os EUA, basta que o avião pouse em seu solo para que, logo no aeroporto possamos ter pistas do que veremos a seguir: picapes, SUVs, furgões, caminhões de bombeiros, viaturas policiais e muita tecnologia a serviço da logística. Abundância de recursos, sem dúvida! Falta de racionalidade e até certo exagero às vezes. Capitalismo à primeira vista. Tudo brilha, tudo é grande e tudo pisca: benvindo à América!
Reino Unido
No Reino Unido, onde ainda se respira realeza, com direito a família real, duques, condes e muito luxo com ostentação e nem sempre com praticidade, ainda se vê carros de marcas regionais como Rover, Rolls Royce,Jaguar, MG, Lotus e tantas outras de pequeno porte que fazem esportivos de maneira artesanal. Vale lembrar que a maioria das marcas mais importantes foi vendida para montadoras de outros países. E para os “súditos” restam Ford, Vauxhall (a Opel deles), BMW, Mercedes, carros japoneses e coreanos e por que não táxis e ônibus com certo charme? Pode ser popular, mas não precisa ser feio ou incômodo, não é? A mão inglesa está lá, claro!
Austrália e Nova Zelândia
Colônias inglesas que mantêm volante e mão de direção como mamãe mandou. É hoje em matéria de carrosenormes e potentes, o que os EUA foram até os anos 90. Eles têm a Holden, da GM, que seria aOpel-Vauxhall australiana. Quer ver um Holden? Fique atento que um Chevrolet Omega australiano uma hora vai passar. Lá é Holden Commodore. E tem Station Wagon e tudo. E também opção de motor V8 e versão superesportiva. A Ford é uma marca forte por lá.
Europa
Desviando o foco para a Europa, na França podemos encontrar modelos conhecidos por nós, brasileiros, das marcas Peugeot, Renault e Citroёn. E tantos outros, destas mesmas marcas, novos ou antigos que não temos por aqui. O gosto por inovação com uma pitada de polêmica e arte nas soluções e no design, reflete-se nos carros. Que por vezes parecem obras de arte ambulantes (Citroёn 2 Cavalos e DS e Renault 4, por exemplo).
Na vizinha Itália, por sua vez, há muito dos italianos nos carros: beleza, paixão, modernidade, audácia e arte. Que já vinha dos romanos e dos renascentistas como Da Vinci e Michelângelo. Residem no país da bota designers de renome como Giugiaro, Pininfarina e Bertone. Nas ruas, carros com formas artísticas e vivas, que mesmo antigos, não perdem a personalidade. São marcas italianas: Alfa Romeo, Fiat, Lancia, Ferrari eLamborghini. E a Bugatti? Apesar de o fundador, Ettore Bugatti ser italiano, de Milão, a marca em questão foi desenvolvida e criada na França em 1909. Passou a ter controle italiano em 1991. E alemão (VW) em 1998.
Os Espanhóis, também apaixonados e nacionalistas, têm sua Seat (que pertence à VW para a indignação de muitos espanhóis).
Alemanha, um caso à parte
A Alemanha é um dos casos mais emblemáticos, onde a personalidade de um povo se traduz nos produtos que fazem. Feliz dos alemães que têm BMW, Mercedes e Audi como meros carros nacionais! Sem falar nos mais triviais, porém benfeitos VW e Opel. Perfeição e pioneirismo, com produtos honestos na categoria que competem são a diretriz. Um modo de fazer as coisas da melhor maneira possível, com qualidade e inovação. Nem sempre do jeito mais óbvio, porém.
Um exemplo: Existem dois sistemas para se medir a pressão dos pneus, um americano e um alemão. O americano tem um sensor na válvula que controla a pressão interna. Se houver vazamento, ele acusa. No sistema alemão a pressão é calculada através de algoritmos que levam em conta fatores como as medidas do pneu, a pressão atmosférica, a temperatura interna e externa dos pneus, a pressão interna e a área de contato deles com o solo. E um computador calcula tudo e diz se o pneu está cheio ou vazio.
Como todos sabem a Alemanha já esteve dividida em duas. Na Oriental, sem tantos recursos para ir tão longe nos detalhes, o Trabant com motor dois tempos e 3 cilindros e versões sedã e perua reinavam. O “Trabi” refletia a resistência do alemão do leste e tinha influência dos carros soviéticos.
Leste Europeu
Em outros países do Leste Europeu, marcas como Dacia (romena) e Skoda (checa), na mão de vizinhos ricos, também mostram que são povos que tiveram apoio governamental e atitude para desenvolver suas marcas, fazendo carros que estampavam seu jeito de ser. Até a ex Iugoslávia teve seu Zastava Yugo.
Suécia
Da organizada, sistemática e fria Suécia, vieram Volvo e Saab. Essas marcas sofreram influência da aviação, tem algo clean e prático no desenho, sem abrir mão de de robustez e segurança. Soluções locais de design e construção sempre foram mantidas. Os suecos têm ainda a Spyker e a Koenigsegg, que fabricam superesportivos.
Ásia: do clone à Excelência
Nossa viagem continua rumo à Ásia. O Japão – e isso não é segredo – começou sua indústria clonando carrosingleses. Assim, para evitar maiores modificações o volante do lado direito foi ficando. A Honda começou como fábrica de bicicletas motorizadas. Com o tempo, o investimento em tecnologia, aliado a maior racionalidade e busca por valores próprios colocou o país e suas marcas, como Toyota, Nissan, Honda, DaihATSu e Subaru em patamares de qualidade aceitos por mercados exigentes como o europeu e o americano.
A Coreia do Sul tem história automobilística similar à do Japão. E hoje compete com os japoneses, em quem se inspiraram e com americanos e europeus. Hyundai-Kia são um grupo forte e estão entre os maiores produtores do mundo.
A China, por sua vez, usa a cartilha japonesa e coreana. Após anos de comunismo, criatividade represada, demanda reprimida – e muitas clonagens -, o enorme país tem dezenas de marcas em parcerias com fabricantes como VW, GM, BMW, Mercedes, Peugeot, Citroёn – entre outras – e já desenvolve produtos próprios.
A sueca Volvo hoje é de controle chinês. Quem olha a China pelo lado da produção industrial e vê seus carrosnas ruas, enxerga um país capitalista. Quem busca conhecer mais, logo fica em dúvida, pois seu governo é capitalista com atitude socialista no seu comando não totalmente democrático. Além disso, desrespeito a patentes e propriedade industrial e ética empresarial discutível convivem com valores históricos e culturais milenares. É a menina dos olhos das montadoras de todo o mundo.
Rússia
Ainda na Ásia, a Rússia foi um EUA Comunista. Tinha até sua pesquisa aeroespacial e sempre produziu automóveis e caminhões. A Lada Vaz, vulgo Lada, embora não seja a única, é de longe a montadora mais conhecida da Rússia e seus aliados que formavam a URSS. Tinha nomenclaturas um tanto quanto técnicas como Lada Vaz Laika L2105 T-16.
Até hoje os velhos conhecidos nossos, Laika e Niva, são produzidos e convivem nas ruas com o que há de mais moderno. São dois mundos automotivos, que refletem bem como anda o país: de um lado os que conseguiram aderir ao capitalismo. De outro os que ainda são saudosos do antigo sistema. Importados ou nacionais, é fato que os carros têm de suportar temperaturas de mais de 40 graus no verão e -50 graus no inverno.
Irã, Índia, Turquia e Tigres Asiáticos
Finalizando o tour asiático, é interessante saber que mesmo países menores como o Irã que fica na porção chamada Oriente Médio, têm seis montadoras,sendo a maior a Iran Khodro. A emergente e populosa Índia, por sua vez, conta com montadoras como Mahindra, Tata, Bajaj e Hindustan. A primeira adquiriu recentemente a Ssangyong da Coreia do Sul. A Tata, a do pequano Nano, hoje é dona de Jaguar e Land Rover. No entanto, em seu país de origem são os carros pequenos e médios que imperam.
A Turquia já monta veículos de marcas europeias há décadas, mas recentemente deu um passo importante: assinou um protocolo com a Fiat para que esta lhe forneça tecnologia para a criação de uma marca de veículos própria, de capital esTatal a princípio.
Na montanhosa e pitoresca Malásia, que, claro também conta com suas congestionadas regiões metropolitanas, a marca mais importante é a Proton.
Taiwan, um dos Tigres Asiáticos, é uma ilha que fica entre China e Filipinas e que já foi colônia da China, Nova Zelândia, Espanha e Portugal. Nem por isso deixou de investir em tecnologia e fabricar bons computadores e automóveis. Apesar de pequenas, têm produtos com personalidade feitos pela Yulon, que tem até submarca de luxo, a Luxgen – e faz carros na China em acordo com montadora local.
África
Agora uma visita à Mama África: Em sua quase totalidade, os países africanos que fazem parte da “commonwealth” ou “Comunidade das Nações” utilizam a mão inglesa de direção. O objetivo desta comunidade de 55 países que, com exceção de Moçambique e Ruanda são ex-colônias britânicas, é manter acordos de cooperação política, econômica, comercial e educacional desde 1950. Desse modo, este costume foi ficando.
O
Japão, indiretamente foi beneficiado por isso, uma vez que exporta a maioria dos carros que rodam nesses países. Com exceção da mais moderna e desenvolvida África do Sul, que monta carros de diversas marcas, inclusive Ford, VW, BMW e Mercedes, muitos países ainda importam carros e caminhões japoneses usados. Isso é visível nas ruas e estradas.
E o Brasil?
Bem, com relação ao nosso Brasil, tivemos a Gurgel. E marcas como Puma, Chamonix, Miura e Envemo, que fabricaram ou ainda fabricam réplicas ou esportivos fora-de-série. Não se pode esquecer dastransformadoras de picapes como Tropical, Brasinca, Sulam e Engerauto. Mais recentemente Troller e TAC que fabricam jipes baseados no Wrangler americano e a Lobini de esportivos. Isto foi até onde chegamos. Houve ainda a Engesa, de veículos militares.
Acredito que a Gurgel foi a que mais se aproximou de uma montadora genuinamente brasileira. Infelizmente não teve apoio governamental em forma de financiamentos como BNDES. Nem de outras maneiras. Afinal, se houve uma Engesa e uma Embraer, empresas esTatais, por que não uma “Autobrás”? Para os que torcem o nariz, é interessante lembrar que até hoje, o governo francês tem uma particpação acionária grande na Renault. Assim como o governo alemão tem uma participação pequena na Opel, na VW e na Porsche. Nestes últimos casos, uma parceria. Faltou foi interesse.
Ninguém pode acusar o brasileiro de falta de empreendedorismo, criatividade e inteligência. E mão-de-obra o Brasil tem. Quem fabrica bons aviões, não faria bons carros? Perguntas para refletir. Somos um dos maiores mercados do mundo, quarto ou quinto, geralmente. E um dos poucos entre os maiores que produz e compra só marcas dos outros. Não tem a sua.
E você, caro leitor apaixonado por carros, ainda tem esperança em uma montadora brasileira? Ou será que o Brasil perdeu o bonde da história?"
>> texto de Gerson Brusco Gonzales (Portal "
Notícias Automotivas")