quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O Governador Misterioso

Um certo dia nasceu uma pessoa. Essa pessoa, em sua infância, tinha muita vontade, mas não tinha coragem. A adolescência frustrante pouco fez a ela. Chegou, então, o momento em que o Governador Misterioso se descobriu. Olhou para trás. Não só virou o pescoço, não só olhou, mas também, viu, enxergou... e se decepcionou. O passado deixou de ser apenas passado e tornou-se memória. Memória sofrida. Memória, agora, interpretada. Memória vivida. O Governador Misterioso percebeu, entendeu tudo o que lhe havia acontecido. Entendeu os motivos. Percebeu os descaminhos, percebeu as desordens, percebeu as incoerências. O Governador, então, construiu um muro e isolou o castelo-passado, e não quer mais bloquear essa barreira, não quer contato com o outro lado. O castelo desmoronou. O Misterioso chorou.

O Governador é assim: Misterioso. Dois ao mesmo tempo, mas não falso. Dois ao mesmo tempo por necessidade. Dois ao mesmo tempo porque se ele se mantivesse um só, não resistiria. Dois o faz conseguir caminhar. À pernas curtas, com pressa, com planejamento, mas à mercê de outras pernas; pernas não-pernas. Mistérios ao redor. Governador só.

O Governador Misterioso tem suas artimanhas. É uma forma de não se ver onde realmente está. Seria absolutamente impossível (sobre)viver sem a menos uma saída. Não é algo muito elaborado, muito pelo contrário, mas é um mistério. Governador é muito reservado; é quieto, é inquieto. É calado. Governador é simples, mas é complexo. Seria mais simples se tivesse uma base. O Governador sofre. Calado. Sofre sem alicerces. Como se sustentar sem pilares? O Misterioso consegue. Finge que consegue. Tenta. Mas sabemos: é impossível.

O Governador não tem aliados. Mistério circundado. Como pode? Sem base nem aliados? Sem base nem aliados. Assim, bravamente resiste. Insiste. É uma tentativa. Tem que tentar. O Misterioso pergunta. O Misterioso gosta de aprender. Quer aprender cada vez mais. O Misterioso, já disseram em uma inesquecível ocasião, é sagaz. O Governador quer saber. A pergunta vai. Resposta não volta. Palavras à solta. Fugindo pela porta.

A tristeza reina. Império não há. O Governador está sem ar. Precisa respirar. O que tem nos ares? ...de bom? O Misterioso não consegue captar. Está para todos, menos para ele. É o que parece. É o que entristece. Governador sem força. Precisa de ajuda. Precisa de ajudas.

Um momento especial surge. Mas é só um momento. É um pontinho em meio a um universo inacessível. Universo de coisas, mas sem muitas opções. Uma imensidão, uma só estrada... ou duas, quiçá. Novamente, e sempre, a falta de sustentação abala. Fere. Machuca. E nunca sara. Só há uma maneira de curar. As cicatrizes ficam expostas. Estão sempre expostas. Resquícios do que está do outro lado do muro. Cicatrizes em meio aos ferimentos... de ontem, de hoje, e jás os de amanhã. São certos. Estarão ali. Estarão penalizando. A única saída é um caminho. Um caminho, mas que precisa de um peso. Um certo peso. É específico. O Governador crê ser o único. Mas o peso não é de fácil aquisição. Talvez, para consegui-lo, necessitaria da tal base que não se tem. É quando chega essa reflexão que o Governador se vê no chão. Caído. As forças novamente se vão. Parece que a saída não se concebe como saída, mas sim como ilusão. O Misterioso é um sonhador. Governador. Que acredita. Que confia. Que tem. Que quer. Amor.

O Misterioso escreve. É bom. O Governador cresce. Cresce dentro do não-crescer. Mas tem um porquê. Pergunta. Pergunta, dessa vez, mas não como se fosse a primeira (e não é), se existe uma razão. Se tem explicação. O passado explica o presente. Só que não. O Governador explodiu o castelo-passado, lembra? O passado não existe. O passado existiu. O passado é presente. Mas o passado não é. Passado. Confusão. Mistério. Letras de uma canção.

Um alguém surge. É encontrado. Tempo passa. Palavras vão. Algumas poucos voltam. Palavras não apenas palavras. Palavras-palavras. Porque não é qualquer. Porque não é ninguém. Votos. Votos são depositados, mas o que se esperou não aconteceu. Quase tudo não aconteceu. Mais uma coisa: esperança. Melhor; mais coisa: expectativa. Não são boas. Elas decepcionam. Como se já não bastasse tudo o que se passa, ainda tem a frustração. Muita coisa ruim. Será que merece? O Governador acha que sim. O Governador acha que não. O Governador Misterioso tem certeza que ele é do bem, que ele quer o bem, mas não há reciprocidade. Não há reciprocidade nos entes, nos atos, nos laços, nas palavras, nos dizeres, nos deveres. Por quê? Sem resposta.

O Governador Misterioso quer realizações, quer fantasias, momentos, presentes, pessoas. Melancolia é o que se manifesta. Tristeza. Novamente ela. Lágrimas. Um corpo em conflito. Uma pessoa sem destino. O Misterioso erra. Também. Todos erram. O Misterioso ajuda, gosta, pergunta, implica. Cativa. Gosta de agradar, de presentear, de massagear, de acariciar, de elogiar. Leva tudo a sério. É sério. É mandão. O Misterioso gosta de ordem. Tem caráter. Responsabilidade, honestidade, bondade. Palavras. Gosta das coisas simples. Sorriso, abraço. Um "oi". Um dizer: eu penso em você. Tem temperamento forte. É confiável. Cem por cento. Sem dúvidas.

O Governador quer. O quê? Que deseja? Como? Quem? O Misterioso não sabe. Não sabe se alguém o entende. Não sabe se alguém mudará algo. Não sabe. Fato: o Governador Misterioso quer. Quer muito. Tem ganas. Tem o que alguém poderia dele ter. Só não tem alguém para poder oferecer.



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